Na presidência desde outubro de 1992, Itamar Franco concentra esforços em medidas de controle da inflação, que beira os 30% mensais. Em menos de um ano, três ministros passam pela Fazenda sem conseguir resolver o problema. Fernando Henrique Cardoso, então, assume a pasta em maio de 1993.

FHC determina o corte de três zeros na moeda e a mudança do cruzeiro para o cruzeiro real. Também promove a criação de um grupo de trabalho, cuja missão era elaborar um plano de combate à inflação sem cair nos erros do passado. Especialistas como André Lara Resende, Edmar Bacha, Gustavo Franco, Pedro Malan e Pérsio Arida – alguns dos quais, coautores do Plano Cruzado – discutem por meses o caminho a ser tomado pelo governo. As linhas gerais do Plano são anunciadas em dezembro de 1993. Antes de seu lançamento, a pasta demanda a aprovação urgente pelo Congresso de medidas de controle das contas públicas e de um instrumento fundamental para isso, o Fundo Social de Emergência.

Em fevereiro de 1994, Fernando Henrique anuncia o Plano Real.
Diferente dos anteriores, ele não congela preços e salários e aposta na recuperação da confiança e na construção de uma moeda forte, conquistada em uma fase de transição. Esse período é iniciado em 1º de março de 1994, quando entra em vigor uma unidade de conta sem inflação, a Unidade Real de Valor (URV). Trata-se de um valor de referência com cotação diária, colocado junto aos preços dos produtos em cruzeiros reais. Com a medida, a população se familiariza com um preço estável das mercadorias, equivalente ao que seria sem a inflação. Os salários também passam a ser expressos em URV – o embrião da nova moeda que está por vir.

Com um cuidadoso trabalho de comunicação desde o início do Plano, chega o momento de lançamento da nova moeda. O real substitui o cruzeiro real e passa a circular em 1º de julho de 1994 – a data mais consagrada do Plano. Nesse dia, a relação entre as duas moedas é de CR$2.750,00 para cada R$1,00 – baseado, justamente, na cotação da URV do dia anterior e com valor próximo ao do dólar. Esse delicado passo se dá sob os cuidados de Rubens Ricúpero, que ocupa o Ministério da Fazenda a partir do início de abril, com a saída de Fernando Henrique para a campanha presidencial.

Desde o começo, o real causa grande impacto no dia a dia dos brasileiros, que são tomados pelo otimismo. A inflação cai de 47% no mês de junho de 1994 para 1,86% em agosto. Apesar do poder de compra aumentado, a população pode consumir sem passar pelo drama do desabastecimento, graças à abertura da economia às importações e outras medidas tomadas pelo governo. Uma nova relação de consumo se inicia: finalmente era possível comparar preços, controlar gastos e planejar a vida.
As eleições ao final de 1994 são decididas já no primeiro turno: Fernando Henrique é escolhido presidente com 54% dos votos.